Resiliência na vida e no trabalho

Exaustivamente debatida, ou ainda há o que aprender sobre ela?

Certamente você já se deparou com algum material sobre resiliência e trabalho. Afinal, trata-se de um assunto muito abordado em artigos, palestras, cursos, reportagens, entrevistas. É só procurar que está lá, resiliência e trabalho sendo debatidos por toda a parte.

Talvez porque este tema tenha sido o primeiro a ser estudado no Brasil pela Psicologia Positiva, uma área científica dentro da Psicologia que investiga os aspectos positivos do ser humano.

Há pouco mais de vinte anos esses estudos buscam analisar as características positivas de personalidade que promovem a resiliência, como otimismo e esperança, considerando-a como um indicativo de vida saudável.

Mas acredito que este ainda não seja um debate finalizado, pois há quem ainda não saiba o que de fato é resiliência e que é possível desenvolvê-la para sair menos impactado das adversidades a que somos acometidos a todo momento, seja na esfera pessoal ou profissional.

            Tanto que, no mundo do trabalho, a resiliência é reconhecida como uma das mais importantes competências comportamentais (soft skills), principalmente em momentos de crise. Isso porque uma pessoa com essa característica consegue lidar mais positivamente com problemas, adapta-se mais facilmente às mudanças e resiste melhor a pressões. E que trabalho não tem tudo isso?

De origem latina, a palavra resiliência é a junção do verbo silie (saltar) + o prefixo re (novamente), assim, o termo pode ser entendido como saltar de volta ao estado normal.

Originalmente, o termo resiliência vem da Física, referindo-se à propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica. Mas outras áreas emprestam a palavra, sempre para designar a capacidade de voltar ao que se era antes após o enfrentamento de dificuldades. Na Ecologia, refere-se à recuperação da natureza após um desastre ecológico. Na Administração, à capacidade dos profissionais em se adaptarem às constantes mudanças no trabalho. Já na Psicologia, a palavra é empregada para tratar da resiliência em pessoas, entendida como a capacidade que um indivíduo tem ou não de enfrentar seus próprios medos, lutas e crises.

Porém, psicologicamente, a resiliência não é considerada como uma coisa única e estática, mas sim um conjunto de fatores de personalidade que promovem em alguém a habilidade de lidar, superar, aprender e até mesmo de se transformar e evoluir a partir das adversidades e estresse inevitáveis da vida.

Compreendida como uma capacidade adaptativa positiva, resulta em desenvolvimento pessoal com saúde e perspectivas sobre o futuro, mesmo em condições complexas, difíceis ou de trauma. Junto com otimismo e esperança, a resiliência é essencial para a resistência à depressão e para levar uma vida mais produtiva e feliz.

Mas apesar de ser um recurso que faz parte da natureza humana, não é um atributo fixo, por isso a resiliência de alguém pode ser alterada de acordo com as circunstâncias, em qualquer fase da vida. E como uma característica pessoal, varia também de forma individual, por isso a resposta aos mesmos riscos e eventos estressores podem ser experenciados de maneiras diferentes por cada pessoa. Isso significa que, após um acontecimento negativo, indivíduos resilientes poderão voltar ao estado normal de saúde física e psicológica que tinham antes da adversidade vivenciada. Já outros poderão sentir a necessidade de se autodesenvolver a partir do evento, utilizando a resiliência para criar uma versão melhor de si mesmo, florescendo e se tornando ainda mais feliz, mesmo tendo a vida marcada pelo trauma.

Como habilidade humana, a resiliência pode ser desenvolvida e até mesmo fortalecida nos indivíduos, o que depende de autoconhecimento e autodesenvolvimento, mas é possível alcançar maior resiliência mudando, por exemplo, pensamentos negativos por positivos, apreciando os bons momentos através de savoring e também a partir do desenvolvimento de forças e virtudes e autorrealização.

O processo de vivenciar a resiliência resulta no desenvolvimento psicológico sadio, a partir da construção fortalecimento de outras competências comportamentais que permitem a redução da depressão, ansiedade e problemas de conduta. Segundo Paulo Yazigi Sabbag, idealizador da primeira escala nacional para avaliar o nível de resiliência de profissionais, há nove caraterísticas comuns observadas em pessoas com alto nível de resiliência, que são:

  • Competência Social: Saber se relacionar com outras pessoas, saber buscar ajuda externa e aceitar apoio em momentos de crise e estresse.
  • Autoeficiência: Ter claro os objetivos que quer atingir e autorresponsabilidade perante às ações que precisam ser realizadas para o sucesso nesses objetivos.
  • Empatia: Entender o outro e suas escolhas, colocar-se no lugar do outro com os valores e condições do outro.
  • Flexibilidade Mental: Não ser teimoso, tentar soluções diferentes e novos caminhos, aceitar sugestões e críticas.
  • Tenacidade: Persistência e capacidade de lidar com situações incômodas e adversas.
  • Solução de Problemas: Exige pensamento estratégico, analítico e controle das emoções para tomar decisões assertivas.
  • Proatividade: Encarar os desafios com novas perspectivas, entende e assimila mudanças e age por si só, sem ficar esperando ordens.
  • Temperança: Saber controlar a impulsividade das emoções, da raiva; ter inteligência emocional.
  • Otimismo: Ter consciência do lado obscuro e negativo das coisas e da vida, mas mesmo assim enxergar pontos positivos.

Então, antes de se autoavaliar como pouco ou muito resiliente, observe suas atitudes na vida pessoal e no trabalho em todos esses outros aspectos. Perceba quais dessas características pessoais e habilidades comportamentais você consegue utilizar com facilidade e em quais você precisa se esforçar mais. E é assim, passo-a-passo, atitude por atitude, habilidade por habilidade, que você se tornará uma pessoa e um profissional mais resiliente, o que fará bem, primeiramente, para você! Afinal, aprender e praticar nunca é demais!